Inteligência Artificial

Botando uns pingos nuns is…
(English version below)

O que acham que é?

ChatGPT e afins.

O que é?

Um campo de estudo sobre métodos para fazer com que o computador tome decisões “espertas” com mínima ou nenhuma intervenção humana.

O chatGPT é uma ferramenta que foi construída com um desses métodos. Por ela ser fácil de acessar e usar, e pela qualidade das respostas, é uma ferramenta que se popularizou muito. Mas ela é uma de muitas outras ferramentas usando um de muitos outros métodos da área de inteligência artificial.

O chatGPT é inteligente mesmo?

Não. O chatGPT é um jogo de probabilidades. Vou tentar explicar com uma analogia.

Imagina que você memorizou todas as obras da grécia antiga, em grego, sem saber falar grego. Ou seja, você sabe todos os símbolos, em todos os documentos, e a ordem que eles aparecem, mas não faz a menor idéia do que eles significam.

Aí alguém escreve pra você uma pergunta em grego antigo. Você vê aqueles símbolos e, sem saber o que significa, vai procurar em todos os outros símbolos que você memorizou se tem alguma coisa parecida. Aí você acha umas coisas similares e começa a construir uma reposta. Primeiro escolhe uma palavra que geralmente segue aquela pergunta, ou perguntas muito parecidas (porque têm muitos símbolos em comum). Daí você dá uma pesquisada no que geralmente segue aquela palavra, e escolhe a segunda aleatoriamente dentre os candidatos mais prováveis, e assim por diante.

É uma idéia simples, implementada muito complexamente com várias transformações de símbolos pra números (porque é mais fácil pro computador trabalhar com números), e que funciona incrivelmente bem. Mas que, na minha opinião, diz mais sobre a nossa regularidade e padrões existentes em tudo que a gente produz do que sobre um computador sendo mesmo inteligente.

É perigoso?

A tecnologia por ela mesma, não. A tecnologia na nossa mão descuidada, provavelmente sim. Mas essa é a história da humanidade. As tecnologias surgem, todo mundo fica empolgado e espreme tudo que pode delas até as coisas começarem a dar errado, e aí a gente pensa como consertar. Foi assim com a agricultura, com os carros, com a internet (que ainda não foi consertada, mas já deu ruim), e vai ser assim com a inteligência artificial. Tem potencial pra dar certo, e potencial pra dar errado, mas não temos o tempo (ou talvez a calma) pra refletir antes da coisa se popularizar e ser usada pra diversas tarefas, boas e más.


Artificial Intelligence

Crossing some t’s and dotting some i’s…
(Versão em português acima)

What do people think it is?

ChatGPT and family.

What is it?

It is a field of study about methods for computers to make “smart” decisions more or less autonomously.

ChatGPT is a tool built using one of those methods. As it is easy to access and use, and for the quality of answers, it has become widely popular. But it is one of many tools based on one of many methods from artificial intelligence.

Is chatGPT really intelligent?

No. ChatGPT is a probability game. I will try to explain using an analogy.

Imagine that you have memorized all the works from ancient Greece, in Greek, without knowing Greek. That is, you know all the symbols, in all documents, and the order in which they appear, but you have absolutely no idea what they mean.

Then someone sends you a question written in ancient Greek. You see those symbols and, without knowing their meaning, look for similar sequences of symbols among the ones that you have memorized. You find some similar stuff and start building an answer. First you choose a word that typically follows the question symbols or sequences like it. Then you search what usually follows that word, and choose a second one randomly among the more likely candidates, and so on and so forth.

It is a simple idea, implemented in a very obscure way with many transformations from symbols to numbers (because it is easier for computers to work with numbers), and that works amazingly well. However, in my opinion, this says more about our regularity and patterns existing in everything we have produced, than about a computer being actually intelligent.

Is it dangerous?

The technology in itself, no. The technology in our careless hands, probably yes. But this is the history of mankind. Technologies arise, everyone gets excited about it and use it to its limit until things start to go wrong, and then we think how to fix it. It was like this with agriculture, cars, internet (which we did not fix yet, but it already went wrong), and it will be like this with artificial intelligence. It has the potential of being a good or a bad thing, but we do not have the time (or perhaps the patience) to reflect before it becomes too popular and used for all sorts of things, good and bad.


P.S.: AI likes my post about AI 😂

Sobre debates produtivos

Nessa época de eleições, ocorrem debates entre candidatos na TV. Na sua maior parte, esses eventos acabam sendo uma oportunidade para a troca de insultos e propaganda grátis, e raramente representam um debate de fato. Debates, na verdade, fazem parte dos primórdios da lógica, e, logicamente, o objetivo nunca foi insultar o adversário ou enaltecer o aliado. Em um debate existem sim dois (ou mais) lados: o proponente e o oponente, em termos técnicos. O papel do proponente é propôr uma idéia, e o papel do oponente é desafiar essa idéia.

Pode parecer uma atividade combativa, mas não é. No final das contas, o objetivo é entender se a idéia é válida, ou em que condições ela seria válida. E isso só se descobre colocando essa idéia em cheque de todos os modos possíveis. O objetivo é aumentar o entendimento de todos sobre aquela idéia, e não “vencer” (seja lá o que isso significa) ou “convencer o outro”.

Na prática, debates (produtivos) entre dois lados aparentemente contraditórios servem para:

  1. Cada lado entender um pouco mais das motivações do outro, e
  2. fortalecer ou refinar os argumentos que a gente tem sobre algum assunto (ou seja, aprender).

Quando um lado faz pergunta pro outro o objetivo não é desafiar ou discordar, mas entender (ponto 1). E quando a gente tem que explicar nossas convicções pra outras pessoas, temos que pensar porque temos essas convicções e em que elas são baseadas (ponto 2). Ou seja, um debate produtivo contribui para o aumento do entendimento global. Infelizmente, as pessoas costumam reagir muito mal a qualquer questionamento que pareça desafiar suas afirmações ou exija um pouco de reflexão. E acabamos assim, com “debates” onde cada um fala pra si próprio, e ninguém realmente aprende.

Eu senti necessidade de esclarecer isso depois de muitas e muitas tentativas frustradas da minha parte de discutir política com algumas pessoas. Eu já discuti muito política na vida. Sinceramente, no início eu não sabia de muita coisa (eu continuo não sabendo, mas a curva é monotonicamente crescente). Mas a gente ouve as outras pessoas, faz perguntas, desafia suposições, pesquisa na internet… E nesse caminho eu aprendi muito. Lembro de discussões muito interessantes e produtivas sobre inflação, cotas nas universidades, voto obrigatório, aprovação de leis, corrupção (e as motivações e implicações sociais), índices econômicos, PIB… enfim. Uma variedade de assuntos! E um tanto de gente bem intencionada me ensinou muito sobre essas coisas durante discussões. Seja sobre partes técnicas do assunto que eu de fato ignorava, seja sobre consequências ou causas que eu não tinha considerado, ou sobre outras opções que eu nem sabia que existia. E talvez elas também aprenderam um pouco no processo, nem que seja como explicar as coisas que elas sabem de modos diferentes. E nem sempre a gente concordava no início, e nem sempre concordava no final. Mas isso não importava.

Infelizmente a coisa ficou feia de uns anos pra cá, e ninguém mais parece ter saco pra isso. Eu tentei, com a melhor das intenções possíveis, pedir uma elaboração de argumentos, perguntar, ou apresentar contra-exemplos a várias pessoas que me apresentaram idéias das quais eu discordo. E é muito, mas muito frustrante mesmo, quando alguém vira e fala “mas é minha opinião e eu não vou mudar e você não vai mudar então essa discussão é inútil”. Quer me matar de raiva é terminar um assunto assim. Cá estou eu, tentando entender o que pra mim parece incompreensível, e ninguém disposto a explicar a não ser com argumentos vazios e sem fundamentos. E que, ao invés de refletir sobre ou fortalecer seus argumentos quando eu faço perguntas, fecha a cara e vai embora. Isso pra mim não é opinião, é teimosia e preguiça de aprender. E se não quer aprender sobre um assunto ou fundamentar suas opiniões devidamente, não me venha apresentar ele como se fosse “a sua verdade”. Conhecimento não é fé.