Acordamos no dia seguinte (26/01) para conhecer Nova Delhi. Dia 26 de Janeiro é o dia da República na Índia, e como Nova Delhi é a capital, era como se estivéssemos em Brasília em 7 de Setembro. Apesar disso, os recepcionistas informados do hotel não sabiam de nenhuma programação, nem o horário da parada. Descobrimos no guia que havia uma parada pela manhã passando pelo India Gate, um monumento em homenagem aos soldados indianos que morreram na guerra, mas que ficava muito lotado e confuso. Então resolvemos ir ao Red Fort primeiro, e deixar o India Gate pra noite. Tinha uma estação de metrô do lado do hotel, que vai em praticamente todos os pontos turísticos e custa cinco vezes menos que um auto-rickshaw, e resolvemos usá-lo.
A fila aqui na Índia é uma coisa que não funciona muito bem. A expressão fila indiana deve ter vindo dos índios mesmo, e não dos indianos. Várias pessoas furaram a fila pra comprar o “token” do metrô, e isso acontece em várias outras filas também. Enfim, depois de conseguir comprar a passagem, antes de passar pela catraca, todos passam por uma revista policial, detectores de metal e as bolsas passam por uma maquininha de raio X igual aquelas de aeroporto. A entrada de mulheres e homens é separada porque é uma guarda mulher que revista as mulheres, tudo sempre dentro de uma cabaninha ou atrás de um biombo. Igual ao aeroporto. Chegamos na plataforma e estávamos esperando onde o primeiro vagão parava, quando um cara chegou e puxou o João para o vagão de trás. Quando o metrô chegou, eu entrei no primeiro vagão e o João no segundo, e então eu entendi. Eu estava num vagão só de mulheres. Eles são todos interconectados, claro, e eu e o João estávamos na junção do primeiro com o segundo, só que de um lado só tinham mulheres =D Quando homens entram nesse vagão um guardinha apita pra eles sairem de lá.
Descemos na estação de Chandni Chowk, esperando que isso fosse mais ou menos perto do Red Fort. Realmente não é longe, mas o caminho até lá não é bonito… E não existem placas indicativas de nada. Passamos por muitos mendigos dormindo em um beco estreito até chegar em uma “avenida” sem calçadas e com várias lojinhas pequenas que estavam em sua maioria fechadas. Chegando em um cruzamento com uma avenida maior, e não vendo sinal de Fort nenhum, encontramos uns guardas e decidimos perguntar se estávamos no local certo. Eles informaram que era só seguir a avenida maior para a direita. Essa avenida já tinha calçadas e muros dos dois lados, e em algumas partes dos muros haviam mictórios. Sim, mictórios chumbados no muro rm uma avenida enorme como se aquilo fosse o banheiro masculino mais arejado do mundo. E todo mundo (homens, claro) usa aquilo sem o menos constrangimento… A “água” que escorria dos mictórios pela calçada até a rua me faz acreditar que aquilo era só uma autorização para fazer xixi no muro (como se eles precisassem de autorização…), sem qualquer infra-estrutura hidráulica. Esses “banheiros públicos” estão em vários pontos da cidade e o cheiro desse trecho da rua, como pode-se imaginar, é insuportável.
A entrada do Red Fort não foi difícil de encontrar devido à barricada policial que havia em alguns quarteirões anteriores. A gente podia entrar, mas não sem antes enfrentar uma fila enorme e passar (pelo que? um prêmio pra quem adivinhar!) um detector de metais e uma revista policial. A visão da fila de longe era bem engraçada. Eles não têm muita noção de espaço pessoal aqui, então fica todo mundo coladinho na pessoa da frente. Como era uma fila só de homens, de longe estava parecendo uns 30 sujeitos encaixados uns nos outros… o.O
Felizmente as mulheres podiam entrar passando pelo lado e sem revista (nesse ponto) pois só haviam guardas homens. Então eu entrei e fiquei esperando o João do outro lado do detector de metal que estava no meio da calçada. Fiquei observando os homens passarem pela revista e percebi que os guardas estavam tirando do bolso de várias pessoas algo similar a um saquinho de ketchup e jogando no chão perto de uma árvore do lado deles. Já havia uns mil saquinhos ou mais no pé da coitada da árvore, e até hoje eu não sei o que é nem como isso poderia ser tão perigoso. Enfim, fui percebendo aos poucos que existem umas regras de segurança aqui que não fazem o menor sentido mesmo.
Quando chegou a vez do João, o guarda pediu que ele retirasse tudo do bolso. Assim que ele viu a câmera fotográfica, pediu pro João ir embora e falou que não podia entrar com ela (security measure…). É um ponto turístico da cidade, no dia da parada do Dia da República, e não pode entrar com câmera pra tirar foto. E eu estava com uma câmera no meu casaco… Então eu saí de lá, passando entre o detector de metal e a árvore dos saquinhos, e como eles não me revistaram, coloquei câmera e celular do João no meu casaco e fomos tentar entrar de novo. Eu não saí de longe pra ir no Red Fort e não poder tirar foto. Eles não iam me fazer desistir usando uma desculpa ruim dessa de medida de segurança. Claro que o policial não era retardado, e quando viu o João na fila de novo, e eu entrando pelo local das mulheres, me barrou e não me deixou entrar. Ficou olhando pro João e perguntando onde estava a câmera. Ele mostrou que não estava com nada e o guarda olhou pra mim e perguntou onde estava a câmera. Falei que deixamos no taxi e ele não acreditou. Mas ele também não podia me revistar. Depois de algumas frases em Hindi e Português, falei com o cara que não ia tirar foto de nada, e ele me deixou passar… Vai entender. O João também passou pela primeira barreira e chegamos em outro local com mais detectores de metal e revistas. Eu não sei o que que esse povo têm. A distância entre os dois era de um quarteirão… eles acham o que? Que nesse quarteirão, cheio de policiais, eu ia magicamente conseguir uma arma? Povo neurótico.
Só que na segunda barreira tinham mulheres policiais. Para a minha sorte elas foram mais simpáticas, mas não deixaram de revistar nada. Entrei na cabaninha lá e a mulher já foi pedindo pra eu tirar tudo dos bolsos. Eu tinha dois celulares (até aí, tudo bem, todo mundo aqui tem dois celulares aparentemente), duas câmeras (isso ela olhou com uma cara meio desconfiada) e meu passaporte. Ela pediu que eu abrisse os celulares, tirasse bateria e chip. Pediu também que eu tirasse fotos com as duas câmeras para mostrar que elas não tinham flash (é, não fez sentido pra mim também não). Depois pegou meu passaporte e ficou folheando, comentou que eu era do Brasil, perguntou o que eu fazia na Índia, etc… Mas mais com um tom de bate-papo do que de interrogatório. Acho que ela estava só curiosa mesmo, como todo mundo.
Finalmente conseguimos passar por todos os policiais e fomos nos aproximando do Red Fort. Isso foi uma cena única, e eu devia ter tirado fotos, mas ficamos intimidados com o tanto de gente que olhava pra gente. Eles de fato formaram um círculo em volta de mim e do João e ficavam encarando a gente, como se estivéssemos em um zoológico. Depois de algum tempo, percebemos que eles também tiravam fotos da gente (com o celular, já que não podia entrar com câmera…). Foi uma sensação muito incômoda. Eles deviam estar prestando atenção na parada deles lá!!! A parada do dia da República termina no Red Fort, então sua entrada estava fechada por um corredor onde passaram os guardinhas do exército com seus chapéus esquisitos e coloridos, a banda, a cavalaria, a camelaria (sim… haviam camelos =D ) e os carros alegóricos no final. Começou como uma parada do dia 7 de Setembro e terminou como o carnaval no Rio. Infelizmente estava tudo muito cheio e só vimos essas coisas de longe. Não deu pra tirar muitas fotos (mesmo porque nossas câmeras lá eram “ilegais”). Além de tudo, o tanto de pessoas encarando a gente estava nos deixando bastante desconfortáveis. Um policial resolveu ser solidário com os turistas e deixou a gente se aproximar da grade do forte pra tirar fotos de mais perto. Ele foi bacana, mas quando a gente voltou tinha um monte de indiano atrás do guardinha olhando a gente tirar fotos. E eu não duvido que eles tenham tirado fotos da gente também. Eu ainda to pra entender o que esse povo têm com estrangeiro viu…