Bicicleta

Eu comprei uma bicicleta semana passada pra andar por Viena. Ela é usada mas está em bom estado e o moco da loja me garantiu que tudo está funcionando bem. Eu acreditei (não tive outra escolha) e já saí da loja pedalando até a universidade. Tenho ido e voltado de bicicleta umas três vezes na semana desde então. O caminho é tranquilo, ainda estou aprendendo algumas rotas. Hoje por exemplo resolvi ir pela margem do rio. É um pouco mais longe mas mais tranquilo já que eu passo menos tempo entre os carros. A pior parte é quando saio do centro e vou até minha casa. Primeiro porque nesse caminho todo não tem ciclovia, então eu tenho que realmente ir entre os carros, parar nos sinais e tal, e segundo porque é só subida (mas não muito forte). Fora isso, no centro tem ciclovia pra quase todos os cantos. E quando estou na rua, os motoristas são bastante pacientes e entendem que minhas pernas não são tão potentes quanto o motor do carro. Mesmo assim, eu não deixo de morrer de medo toda vez que tenho que passar por um caminho estreitinho entre um carro estacionado e a pista. Felizmente, nada de sério aconteceu.

Hoje voltando pra casa eu tive minha primeira batida de bicicleta. (Mas como eu já disse ali em cima que nada de sério aconteceu, não precisa ficar alarmado.) Estava atravessando uma rua e muitas pessoas passavam. Aí eu desviei de um grupo e uma ciclista desviou do mesmo grupo e a gente trombou de frente =( Foi meio bobão… mas eu e ela caímos e tal e acho que ela ficou com extra remorso quando disse que eu não falava alemão. Levantei e saí de lá com nada mais do que um arranhãozinho na mão (que tá ardendo até!). Nada se comparado com meu primeiro acidente de bicicleta que me custou alguns pontos no queixo.

Sobre o tempo gasto pra ir de bicicleta ou transporte público, hoje eu comprovei oficialmente que eu gasto pelo menos o mesmo tempo (com acidente e tudo mais, o que indica que provavelmente eu gasto menos tempo). Saí da universidade junto com meu professor. Ele pega a mesma rota pra ir pra casa do que eu, só que desce to tram alguns pontos antes. Hoje saímos na mesma hora e quando eu estava passando pelo ponto dele, lá estava o tram e ele descendo. Continuei pedalando e quando cheguei na esquina da minha rua olhei pra baixo e vi o tram vindo láááá longe =) Ou seja, eu sou mais rápida que ele.

Além disso, andar de bicicleta me faz mais saudável, eu aprendo os caminhos da cidade, treino meu senso de direcão e passo por uns lugares super bonitos =) A pista de bicicleta no ring (tipo uma Contorno) é entre as árvores e eu passo na frente de um palácio que não sei o nome ainda, o quarteirão dos museus que é cheio de prédios históricos com um jardim lindo no meio e a prefeitura da cidade que é bonitona.

ética x discriminacão

Hoje na reunião de projeto aconteceu uma coisa interessante… Logo no início um colega falou com meu professor que gostaria de conversar com ele depois sobre um projeto em parceria com a Franca. Meu professor disse que eles podiam adiantar e conversar naquele momento mesmo. Enquanto eles falavam sobre a proposta e o deadline (daqui a 5 dias) o meu orientador virou pro meu colega e disse “Você sabe que a Giselle tem que estar no projeto né?”. Eu, que nem estava sabendo de projeto nenhum até então virei pra ele e pro meu colega com cara de “Como assim??”. Eu nem sabia do assunto do projeto e de repente eu *tenho* que participar dele? Tá né… Aí meu professor explicou que pro projeto ser aprovado precisa ter uma porcentagem mínima de mulheres. Ou seja, se fosse um projeto só com homens ele não ia ser aprovado de jeito nenhum, e eu como a única mulher desse grupo da universidade, entrarei pra garantir que temos uma chance de ser aprovado. o.O

Qual é minha contribuicão pro projeto em si? Sabe-se lá… Ele viu que eu fiquei meio desconcertada e me garantiu que esse não foi o motivo pelo qual eu fui aceita no programa de doutorado (apesar dele ter tido sim uma quota pra mulheres, eu tenho aparentemente um bom currículo). Meu professor tentou explicar que eles fazem isso pra diminuir a discriminacão contra mulheres nas ciências. Mas sério… eles só estão gerando uma discriminacão pelo outro lado. Olha só minha situacão, eu fui chamada pra participar de um projeto simplesmente porque sou uma mulher… Pode não ter sido a intencão do meu professor, mas o fato de ninguém ter me falado disso até hoje, faltando cinco dias pra submeter a proposta, não é um indício muito forte de que eu tenho algo pra acrescentar.

Fiquei pensando nisso por um tempo. Conversei com outro colega e ele disse que se eu tiver me sentindo desconfortável a melhor coisa que eu faco é falar com meu professor, mas ele acha que na verdade esses projetos são submetidos não porque é esperado que os resultados prometidos sejam atingidos, mas sim pra gente conseguir verbas pra viajar e parcerias com outras universidades que podem gerar resultados completamente diferentes do proposto. Enfim, tudo tem dois lados. Eu posso aproveitar essa regra esquisita e usar a meu favor pra entrar nos projetos e conhecer outros pesquisadores e outras linhas de pesquisar e visitar outras universidades. Mas por outro lado, tem a minha ética e auto-estima, que me falam que ia ser melhor mesmo se eu estivesse num projeto por mérito próprio e porque as pessoas realmente acharam que eu era relevante. Infelizmente o mundo é injusto, e a segunda possibilidade parece semi-utópica… Então, melhor usar a injustica pro meu proveito enquanto eu posso (até os 35 anos. Também tem um limite de idade…).